O mercado Português no setor da Facility Services

O mercado Português no setor da Facility Services

Como começou a sua carreira como organizador de Feiras e Eventos e como surgiu a Cleantek?

Iniciei a minha atividade em 1998 como gestor de produto na Exponor, sendo posteriormente responsável, por várias feiras de referência dos mais diversos sectores de atividade culminando com a função de direção da área das feiras e congressos da Exponor até à minha saída da empresa por minha iniciativa em 2018.

A Cleantek enquanto feira de nicho e especializada à semelhança de outros eventos, surgiu da necessidade de colmatar uma lacuna existente no mercado e desenhar uma feira B2B que se assumisse como o ponto de encontro dos profissionais da limpeza , lavandaria e facilities num modelo de participação muito competitivo e focado no negócio que julgo terá sido muito bem aceite pelo mercado se considerarmos ter tido um crescimento de 60% da primeira edição em 2020 para a segunda em 2022.

Quais são as tendências atuais no setor das facility services em Portugal e como é que a feira Cleantek reflete essas tendências?

Não existe em Portugal uma “maturidade” deste sector, muito lato, que permita a recolha e sistematização de informação qualificada, para diria, uma reflexão mais rigorosa, precisa e organizada. Existem, no entanto, algumas tendências se calhar transversais a todos os sectores de atividade e outras mais específicas. Desde logo, e de uma perspetiva mais transversal não podemos ignorar a repercussão que a pandemia do COVID-19 teve em termos comportamentais e na relação com o trabalho ou a forma como este passou a ser encarado.

Por outro lado, o fenómeno da inflação e da guerra na Ucrânia com o respetivo aumento das matérias primas e dos custos de produção e ainda a temática central da sustentabilidade e da transição energética com uma clara mudança de paradigma face ao aumento exponencial do custo das matérias primas, e finalmente, algo que ainda estamos a aprender a conhecer, que é a inteligência artificial e o forte e até desconhecido impacto que poderá ter no nosso dia a dia, na economia e negócio em termos de modelo de organização de trabalho, desenvolvimento de produto, I&D, distribuição etc. Assim, do ponto de vista organizacional e laboral e ao nível da gestão de recursos humanos, julgo que haverá uma tendência para acelerar o Upskilling resultante do quiet quitting que alterou brutal e definitivamente o mercado de trabalho com novas formas e modalidades híbridas, com a afirmação do office-as-a-service.

É natural ainda que haja uma alteração de modelos de gestão acompanhados de novas ferramentas muito orientadas para melhorar eficiência energética, reduzir custos e cumprir metas da transição energética.

A feira em si, enquanto interface entre a procura e a oferta, poderá alargar o seu âmbito sectorial para acolher novos players, estar atento às alterações do lado da procura, respondendo às necessidades dos clientes, visitantes, compradores e ser também um palco e um fórum de conhecimento, debate e apresentação de novidades e por maioria de razão tendências. Existe ainda a intenção de desenvolver plataforma que sirva de polo aglutinador do sector com uma forte componente de conteúdos e partilha de informação.

Quais são os maiores desafios que o setor das facility services enfrenta atualmente em Portugal e como é que as empresas estão a responder a esses desafios?

Julgo que a escassez de recursos especializados será um dos principais desafios a curto prazo do setor, aliado a uma forte transformação em curso no domínio da tecnologia e de uma economia de escassez ou pelo menos de mudança de paradigma em termos de consciencialização da necessidade de adotar comportamentos mais eco responsáveis e de maior eficiência (energética e não só).

Como é que a tecnologia está a influenciar o setor das Facility Services e como é que a feira Cleantek está a acompanhar essa evolução?

A tecnologia tem e terá um papel cada vez relevante neste e noutros sectores, mormente pela ascensão imparável da Inteligência artificial e o impacte que terá na criação de novos empregos e funções mas também extinção de muitos, mas sobretudo novas ferramentas para alterar os dados e modelos de competição em vigor.

As redes sociais e modelos de virtualização não podem ser ignorados pelas organizações, assim como a desmaterialização e transição digital essenciais para competir num mundo que embora possa a vir ser menos global, fruto das alterações geo estratégicas em curso, continuará a ser muito competitivo. A aposta no I&D como factor diferenciador e vai para além da tecnologia tem que ser encarado com uma clara vantagem competitiva.

Como é que as empresas podem garantir a qualidade de serviços quando estes são subcontratados a terceiros?

Julgo que a qualidade do serviço deve estar inerente a qualquer atividade, sector ou prestação podendo mudar os modelos e procedimentos de avaliação de satisfação.

Como é que a falta de recursos humanos qualificados afeta a oferta e a qualidade dos facility services, e como é que as empresas podem superar essa dificuldade?

É de facto um problema sério, transversal a várias indústrias e setores. Neste sentido, importa cada vez mais reter os talentos, perceber que os colaboradores

são cada vez mais exigentes e pedem outros tipos de incentivos, flexibilidade e reconhecimento, que se pode traduzir numa relação menos rígida do modelo de trabalho em beneficio das duas partes e mesmo em termos de produtividade, o que implica sempre uma visão e capacidade de gestão muito focada e capaz.

O recurso à imigração embora possa ser uma solução, levanta desafios de adaptação e muitas vezes de aculturação, mas parece inevitável para colmatar a falta transversal de recursos.

Que conselhos daria a alguém que está a começar uma carreira no setor das facility services em Portugal

Como em qualquer negócio, julgo ser importante conhecer muito bem sector, as suas características, possuir conhecimentos técnicos, os essenciais soft skills, ser credível, profissional, com uma forte cultura de orientação para o cliente e tentar saber quais são as suas “vantagens competitivas”.

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